Há 9 anos eu entrava em um auditório com cerca de 500 pessoas para gravar meu primeiro grande evento, um #TEDex sobre #propósito(Aliás, vamos falar de propósito) no #tedexinatel. O momento era outro economicamente e o tema não era tão usual quanto hoje em dia. Eu era mais jovem, ainda não tinha tido filhos, liderado a área de RH da América Latina do Airbnb uma das empresas mais humanas e inspiradoras da atualidade, nem sido sócia da VOX Capital, o Venture Capital de Impacto pioneiro no Brasil e um dos principais no movimento global do #investimentodeimpacto e da #novaeconomia. Dito isso, me peguei refletindo aqui… o que mudou no meu entendimento sobre propósito desde aquela minha palestra de 2013?
Primeiro vamos rever as terminologias.
Propósito no nível pessoal pode ser definido como a razão pela qual uma pessoa existe, seu objetivo de vida ou aquilo que dá significado e direção à sua jornada pessoal. No nível organizacional, pode ser definido como a razão de existir da empresa, sua missão central e a forma como ela busca contribuir para a sociedade. É a resposta à pergunta "por que a empresa foi criada?" e deve estar alinhado com os valores e a cultura da organização.
Naquele TEDex comentei que "o céu é o limite" quando unimos pessoas e organizações que compartilham de propósitos similares e que são coesas e coerentes na aplicação dos mesmos. Eu havia entendido uma ligação importante que chamei de alinhamento de propósito entre organização e funcionário: autoconhecimento (o que sei sobre mim e o que faço com isso de forma consciente) e o quanto isso tudo combina com a organização para a qual trabalho.
Ao longo do tempo percebi que o conceito ficou tão popularizado que para não ser mal interpretado é preciso reforçar mais três elementos: "zona de performance", coerência organizacional e estratégias sólidas de negócio.
Primeiramente vamos falar de "zona de performance". Meu entendimento prático da importância deste tema veio de uma conversa com um colega que pediu desligamento da empresa que ele admirava pois queria ficar "fora da zona de conforto, mas não fora da zona de performance". De forma sucinta, a zona de performance é um estado mental de produtividade e motivação alcançada quando uma pessoa está envolvida em uma atividade desafiadora, mas que ainda é possível de ser realizada (para quem conhece, tem certa similaridade com o conceito de "flow" mesmo). Aquele meu colega era ótimo profissional, estava colocando seu trabalho e propósito a favor de uma organização com a qual se identificava, mas estava alocado em uma atividade que não conseguia tirar o melhor dele. Ele demonstrou autoconhecimento e maturidade para sair sem se sentir fragilizado, mas quantos fariam o mesmo? Um tema super relevante para quem ocupa posição de gestão de pessoas, certo? No entanto, em muitos casos isso pode "passar batido", levando o funcionário à exaustão e a história termina ou perdendo a pessoa, ou em um desligamento doloroso para o funcionário e a própria cultura da empresa.
Segundo, ao mesmo tempo que a popularidade de propósito tem levado a reflexões mais autênticas, também levou a uma banalização do conceito. Muitas empresas afirmam ter um propósito, mesmo que seja vago ou uma tentativa de se destacar no mercado. Há empresas que divulgam seus propósitos e valores, mas que os aplicam "convenientemente" e de forma diferente para stakeholders distintos.
Propósito e cultura organizacional estão diretamente relacionados, sendo que a cultura é muito mais do que se tenta mostrar. É como fazemos as coisas; como comunicamos; como tomamos decisões; como tratamos diferentes pessoas que se relacionam com o ecossistema de uma empresa. Não dá para fingir uma cultura por muito tempo.
O terceiro insight que me ocorreu é que algumas pessoas podem achar que um propósito forte é suficiente para garantir o sucesso de uma empresa. Na verdade ele deve ser combinado com uma estratégia de negócios sólida e bem executada para realmente fazer a diferença. Anos turbulentos de crises globais e econômicas nos trazem mais e mais evidências: propósito claro e consistente é um diferencial, mas sozinho não leva ao sucesso ou nem mesmo a ultrapassar a barreira do primeiro ano de existência e breakeven de um negócio.
Propósito organizacional passa longe da romantização dos negócios. É tratar negócios com seriedade mas com consistência entre sua razão de existir e seus valores aplicados na prática.
Desta forma, apesar de importante, a combinação de um propósito organizacional forte com um time alinhado a ele não é suficiente para o sucesso de um empreendimento. É preciso dedicar tempo e foco a outros elementos de gestão como ter as pessoas certas nos lugares certos (em suas zonas de performance), viver coerentemente este propósito na prática, assim como se diferenciar por uma gestão eficiente e sólida da organização. A pergunta que fica é: como construir organizações verdadeiramente coerentes, rentáveis e inspiradoras? Seja lá como for, quem o fizer estará realmente mais perto da expressão "o céu é o limite".
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